sábado, 24 de dezembro de 2011

hermes fontes ...o poeta do luar de paquetá

Hermes Floro Martins de Araújo, poeta e cronista brasileiro, nasceu em 28 de Agosto de 1888, em Buquim, no Estado de Sergipe. Formou-se em Direito, no Rio de Janeiro, e foi jornalista e funcionário público, acabando por se suicidar na sequência da Revolução de 1930, época em que lhe foi feita uma grosseira sindicância a que se juntou a separação de sua mulher e o agravamento da sua surdez. A sua carreira poética foi iniciada sob excelentes auspícios como "Apoteoses", onde patenteava, ao modo da geração realista, uma tendência científica. Porém, a sua poesia acabou evoluindo para um intimismo crescente e uma temática espiritualista, sendo hoje considerado um dos poetas simbolistas brasileiros. Contribuiu, segundo Massaud Moisés, para a introdução dos versos assimétricos na literatura do Brasil.
          Faleceu no Rio de Janeiro - RJ, em 25/12/1930. Filho de lavradores, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais no Rio de Janeiro, para onde se mudou com a ajuda do governador da Província de Sergipe. Foi oficial de gabinete do Ministério da Viação durante o governo de Washington Luiz. Em 1908, publicou "Apoteoses", sua primeira obra poética. Em 1913 publicou "Gênese", seu segundo livro de poesias. No mesmo ano, teve gravada pelo cantor Roberto Roldan, na Odeon, a modinha "Constelações", parceria com Cupertino de Menezes. Colaborou com o jornal "O Fluminense", de Niterói (RJ), e mais tarde fundou o jornal "A Estréia", trabalhando ao mesmo tempo nos Correios e Telégrafos. Em 1922, o cantor Bahiano lançou na Odeon, o fado-tango "Luar de Paquetá" (*), composta dois anos antes, em parceria com Freire Júnior e que alcançou enorme sucesso, tornando-se no ano seguinte, título de uma revista que logrou mais de uma centena de apresentações. Regravada várias vezes, entre outros por Francisco Alves, logrou repetir o sucesso em 1944, quando foi regravada em dueto por Dircinha Batista e Déo, com acompanhamento de orquestra e coro. Publicou ainda os livros de poesias Ciclo da perfeição, Mundo em chamas, Miragem do deserto, Epopéia da vida, Microcosmo, Despertar, A lâmpada velada e A fonte da mata.
(*) A Ilha de Paquetá é visível do alto do Cristo Redentor.
          "Luar de Paquetá" é a mais conhecida das composições sobre a bucólica ilha, que inspirou tantas outras canções e até um romance célebre, A Moreninha, de Joaquim Manoel de Macedo. E merece essa popularidade muito mais pela melodia de Freire Júnior do que pelos versos de Hermes Fontes. Um exagerado simbolista, o poeta impregnou a canção de imagens afectadas como "nereidas incessantes", "hóstia azul fervendo em chamas", "noites olorosas"... Aliás, a propósito desta imagem, há algumas gravações em que os intérpretes - entre os quais Francisco Alves - trocam o adjectivo e cantam "nessas noites dolorosas". Lançado em 1922, "Luar de Paquetá" estendeu seu sucesso ao ano seguinte, quando deu nome a uma revista teatral.

Luar de Paquetá
Freire Jr. / Hermes Fontes



Nestas noites dolorosas,
Quando o mar desfeito em rosas,
Se desfolha à lua cheia,
Lembra a ilha onde me oculto,
Onde o amor celebra em tudo,
Todo o encanto que a rodeia.
Nos canteiros ondulantes,
As nereidas incessantes,
Abrem lírios ao luar,
A água em prece burburinha,
Em redor da capelinha
E vai rezando o verbo amar.
Jardim de afetos, pombal de amores,
Humildes tetos de pescadores,
E a lua brilha - que bem nos dá -
Amar na Ilha de Paquetá !
Pensamento de quem ama
Oh que beijo ardendo em chama
Entre lábios separados,
Pensamento de quem ama,
Leva o meu radiograma
Ao jardim dos namorados,
Onde há esse paraíso
O caminho que idealizo,
Na ascensão para este altar,
Paquetá é um céu profundo
Que começa neste mundo
Mas não sabe onde acabar...