Publicada em 01/10/2011 às 12h59m
Renata Leite (renata.leite@oglobo.com.br)
RIO - Enquanto diversas ações buscam incentivar a inclusão do pedal no transporte diário dos cariocas, um pedaço de terra do município segue cercado de bicicletas por todos os lados. O tempo parece ter transcorrido mais lentamente para os 4.500 habitantes de Paquetá. Na "Ilha da Bicicleta", qualquer veículo que supere os 20 km/h gera estranheza.
- O automóvel não faz a menor falta. Além de serem ecologicamente sustentáveis, as bicicletas são muito mais saudáveis. Na verdade, às vezes tem até carros de serviço demais por aqui - opinou Abgar Sotto Mayor, que mora na Tijuca, mas parte todo fim de semana para a ilha.
Às 8h30m de uma quarta-feira, cinco caminhões circulavam pelas ruas de saibro levando tijolos, alimentos e móveis de um possível novo morador. O olhar atravessado e os resmungos de quem passava em meio à poeira erguida pelo tráfego deixavam claro que os veículos, comuns em qualquer outra parte da cidade, não são bem-vindos por ali.
- Não temos um levantamento oficial, mas certamente há pelo menos uma bicicleta por habitante da ilha, ou até mais - revelou o administrador Regional de Paquetá, Márcio Mayorcas, que este ano enviou para a Secretaria municipal de Casa Civil o pedido de regulamentação do serviço de EcoTáxi. - Temos cerca de 100 EcoTáxis cadastrados hoje. É preciso que seja feito um decreto ou uma lei que estabeleça os direitos e deveres do condutor, defininfo uniformes, pontos e tarifas.
Triciclos adptados para levar até dois passageiros, além do condutor, os EcoTáxis são amplamente utilizados pelos moradores, que ainda têm charretes e uma espécie de trenzinho sem trilhos para se locomover. Para a maioria dos moradores, no entanto, a primeira opção é sempre o bom e velho pedal. A estrada que margeia a ilha tem sete quilômetros e pode ser percorrida em pouco mais de 20 minutos.
- Não existe lugar melhor para se viver do que Paquetá. Basta dizer que quem mora aqui vive mais e mais feliz - garantiu Carlos Dias da Silva, que trabalha alugando triciclos para turistas.
Ele é um dos muitos entusiastas da bicicleta na ilha, mas se viu impedido de pedalar após três cirurgias no joelho. O jeito foi comprar uma bicicleta elétrica, item que é alvo de mais uma polêmica em Paquetá. Os mais conservadores torcem o nariz para o advento da modernidade e chegam a temer acidentes. Tudo parece invertido nessa ilha parada no tempo.
Para chegar a Paquetá, é preciso pegar a barca na Praça XV e navegar por pouco mais de uma hora. O transporte de bicicletas é aceito pela concessionária Barcas S.A., mas é preciso pagar o valor de R$ 4,75, além de passagem de R$ 4,50. As bicicletas dobráveis podem ser levadas sem custo. Os caminhões com mantimentos e outros itens chegam de balsa.
Quanto à possibilidade de limitar o número de caminhões que circula na ilha, Mayorcas diz não haver negociação. O artigo 8 do Decreto 322/1976 proíbe o trânsito de veículos motorizados em Paquetá, com exceção para aqueles indispensáveis ao serviço público (ambulâncias e caminhões de lixo, por exemplo) e os de uso transitório, destinados a transporte de mercadorias. Neste caso, são permitidos apenas cinco veículos por dia e eles não podem pernoitar na ilha. Os moradores agradecem.
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